05/07/2009

Sentido da morte



Desde o início de sua vida o ser humano está sujeito à supressão de sua existência. De fato, isso significa que o homem é um ser destinado a morrer. Essa situação desperta diversas formas de enfrentamento, que variam de um ser para outro, da mesma forma que o idoso, no desenrolar de tais reflexões acerca de sua existência, lapida em seu ser o significado da morte, condição que desvelou os seguintes subtemas: o estar para a morte, crenças e valores em relação à morte.

O estar para a morte: Este subtema revela a autenticidade com que o ser idoso percebe e admite a morte como uma certeza. A morte é o término da vida, o último momento do ser humano nesta existência, e pode acontecer com qualquer um, tendo em vista que o homem traz em si a sua finitude. A morte é um acontecimento singular e deve ser vista e entendida como tal, o que pode ser evidenciado nas seguintes falas:

“O dia que a morte vir me buscar quero ir bem contente, porque consegui cumprir minha missão aqui na terra, que é de ensinar as experiências de vida que tenho. Aceito a morte como algo natural, uma seqüência da vida[...].”

“É algo que ainda não levei em consideração, se pensar pelos outros sinto falta e saudades, mas não estou pensando nisto. É algo normal, que ninguém escapa, temos que encarar como natural, não tem jeito, se fugirmos desta realidade estaremos negando algo que é irremediável.”


Sendo a morte uma dimensão integrante da vida, o viver plenamente implica a aceitação e o convívio com ela, muito embora o ser humano crie dispositivos de segurança, negando, assim, essa realidade. Os mecanismos de defesa apresentados pelos indivíduos possibilitam que se ignore a morte e se dificulte a percepção da finitude do ser no mundo(LUNARDI, 2004). O homem admite a morte como um fato, porém apresenta grande dificuldade em assumi-la como um modo de ser da natureza humana. Adotar uma postura de autodefesa diante da morte garante ao ser o simples ato de pensar e agir, dissimulando seu verdadeiro significado(CROSSETTI, 1997).

Crenças e valores espirituais: Este subtema revela que o idoso procura auxílio e coragem em seu mais profundo eu, apoiando-se e desenvolvendo sua espiritualidade. Essas dimensões possibilitam a compreensão de sua existência e da morte. A confiança em uma vida após a morte, abençoada e plena, acalenta sua alma, como constatado nos discursos a seguir:

"Morte é para mim a passagem desta vida para a presença eterna com Deus [...].Não é o fim de tudo, é apenas o nascer para uma nova maneira de estar com Deus.”

“É o encontro com Deus [...]. O corpo é a única coisa que morre a alma, nosso espírito continua a vivência eterna, acredito que a vida não termina com a morte”

O idoso visualiza a morte como uma passagem para a continuidade espiritual. “Pela espiritualidade nos preparamos para o encontro, face a face, com o Pai e Mãe de infinita bondade e misericórdia, criador de todas as coisas e fonte de nosso ser” (BOFF, 2001, p.73).

O envelhecer e a morte se constituem num processo natural da existência humana, porém nem sempre aceito pelos seres que o vivenciam. Quando o saber e a história de vida
do idoso são valorizados, entendidos e respeitados, este ser percebe que sua existência tem um significado. Essas atitudes de consideração, respeito e amor acolhem o idoso, pois existe o reconhecimento de sua singularidade, promovendo um sentido no envelhecer e possibilitando o enfrentamento da morte.


Ao abordar a morte e o envelhecer, seja realizada uma quebra do que se revela proibido, voltando a uma reflexão temática, discutindo-o em diversas áreas de conhecimento. Isso leva a crer que a sociedade possa(re)aprender que a morte é essencial para que a vida concretize seu percurso e a livre discussão do envelhecer e da perda possam levar a uma melhor qualidade de vida. A consciência crítica e reflexiva acerca dessa temática deve ser despertada porque representa novas possibilidades e realidades de se interagir com este ser e com a vida. Dessa forma, dialogar sobre o processo de envelhecimento e a morte possibilita uma compreensão do ser e suas dimensões sociais, culturais, psicológicas e espirituais.


Fonte: RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 92-100 - jul./dez. 2006

5 comentários:

  1. O homem não é velho enquanto está buscando alguma coisa. (Jean Rostand)


    O homem começa a envelhecer quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos.(John Barrymore)

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  2. É verdade que os valores mudam e contribuem para dificultar a adaptação dos mais velhos (principalmente em grandes centros urbanos, onde as transformações são mais rápidas), mas a sabedoria e a serenidade estão intrinsecamente ligadas ao saber envelhecer, ao saber viver e à consciência de que a morte é inevitável. Nada escapa desse momento: ricos, pobres, bonitos, feios, desconhecidos, famosos, homossexuais, heterossexuais, brancos, negros, marxistas, capitalistas, jovens e idosos.

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  3. A vida é dinâmica e, portanto, um processo contínuo de mudança. Por isso envelhecemos. Envelhecer é viver, viver é envelhecer. São faces da mesma moeda. Não podemos pensar na vida sem pensar no envelhecimento

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  4. Certamente ao abordar o envelhecimento e morte como constituição de num processo natural da existência humana, muitas vezes n´s somo seres humanos não aceitamos , uma vez que é preciso lembrar que é essencial para que a vida concretize seu percurso e a livre discussão do envelhecer e da perda possam levar a uma melhor qualidade de vida.

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  5. “Eu encaro á vida como uma imensa escalada na montanha, logo a morte uma de muitas paisagens que não deve deixar de ser contemplada”

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